domingo, 1 de outubro de 2017

Mulheres, carreira e familia: o desafio da conciliação.


Quantas vezes você já ouviu alguém perguntar a uma mulher: Como você consegue conciliar carreira, trabalho e família?  Quantas vezes você já se angustiou ou se sentiu esgotada pelo excesso de atribuições?

A entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho alterou a configuração familiar. Cada vez mais as mulheres exercem uma carreira, constituem família e como forma de ajuste desta realidade almejam um “ modelo de conciliação” entre a vida pessoal e profissional. Segundo Rafaela Cyrino, no livro Mulheres executivas: a divisão do trabalho doméstico á luz dos estereótipos de gênero, este modelo de conciliação é normalmente associado quase que exclusivamente às mulheres.  Isto se deve a aspectos culturais e sociais enraizados, ancorados em crenças da sociedade e famílias e que muitas vezes são sustentados inclusive pelas próprias mulheres. Os cuidados com a casa, filhos e provisões do lar são culturalmente entendidos como atributos femininos “naturais”. No mesmo livro a autora destaca que a divisão do trabalho entre os membros de um casal sugere poucas mudanças nos padrões tradicionais. Também revela que em 96% dos domicílios familiares a mulher é a principal responsável pela execução dos afazeres domésticos e que a participação dos homens é seletiva e diminui na medida que a atividade implica em trabalho manual.  Nesta mesma pesquisa as mulheres relatam dificuldades pelo excesso de responsabilidades e dupla jornada e também que preferem continuar a trabalhar fora, mas gostariam de se dedicar menos tempo as demandas domésticas. Já as mulheres melhor posicionadas no mercado de trabalho, com cargos e salários diferenciados, normalmente passam a delegar para outras mulheres, como empregadas domésticas, diaristas e babás as tarefas da casa, embora continuem responsáveis pela administração do espaço doméstico. Estas mulheres, também relatam percepções de sobrecarga e esgotamento pois a responsabilidade de organizar, gerenciar, verificar o que precisa ser feito e resolver os imprevistos é denomina como “carga mental”. Esta “carga mental” é o fenômeno de ter que pensar em tudo que precisa ser feito, antes mesmo de delegá-las. É pensar em todo o trabalho que faz o um ambiente doméstico funcionar como: a preocupação porque vai acabar o papel higiênico e é preciso colocá-lo na lista de compras, o medo de esquecer de marcar consulta médica, lembrar de comprar o uniforme e cadernos das crianças, achar um traje caipira para a festa de São João, renovar a matrícula da escola das crianças…e tantas outras. Para poder dedicar-se a estas coisas, ou inclusive para delegá-las, primeiro é preciso pensar nelas. 

Esta sobrecarga também acontece quando o marido ou os filhos se dispõe a “ajudar”, aguardando que a mulher diga o que deve ser feito. Quando uma mulher pede ao marido ou filhos que a “ajudem em casa”, também soa como se estivessem “fazendo um favor a ela” e acabam esquecendo-se de que participar das atividades domésticas em conjunto uma vez que integram àquele lar.  Estudo recente da economista do IBGE Cristiane Soares, apresentado em seminário da Associação Brasileira de Estudos Populacionais ( Abep), mostra que em qualquer tipo de família, seja com filhos, com idoso, com pessoa doente em casa, a mulher trabalha mais se for casada, indicando que um marido aumenta o trabalho ao invés de poupar a mulher. No caso dos homens, a situação é completamente inversa: o casamento livra o homem das tarefas domésticas.

Para Regina Madalozzo, especialista em economia de gênero do Insper, o serviço doméstico é considerado responsabilidade feminina: Quando é casada a mulher trabalha ainda mais em casa e quando o homem está morando com uma companheira, ele diminui o ritmo de afazeres domésticos. A cultura é que o trabalho doméstico é responsabilidade da mulher. Esta é uma visão até das próprias mulheres e se manifesta toda vez que usarmos o termo “ele ajuda em casa”, como se fosse um favor ou gentileza.

As mulheres têm sido frequentemente acometidas pela Síndrome de Bournout que se manifesta através do esgotamento físico e mental onde o corpo e  a mente colocam um ponto final na sua capacidade de reação. As mulheres acabam sendo ainda mais propensas a este problema pois além dos aspectos sociais e culturais, também características como perfeccionismo ou acreditar que precisam “dar conta de tudo e de todos”, não permitindo que cada membro da família aprenda a dar a sua contribuição no lar. Também muitos homens não levam a sério a divisão das tarefas do lar. Estes problemas desgastam as relações familiares e as manifestações de amor.
 A delegação de tarefas responsabilidades deve ser feita de forma pacífica e equilibrada e enquanto mulheres somos n
ós que devemos provocá-las  se não estão acontecendo. Se você se sente esgotada e percebe que tem pessoas na família que estão “folgadas” são necessárias mudanças na forma de abordar e conduzir o problema para usufruirmos de uma vida plena, tanto nos aspectos pessoais como profissionais. Sucesso e vida plena!!